Livro | Isto não é um cachimbo | Michel Foucault

 

Primeira versão, a de 1926, eu creio: um cachimbo desenhado com cuidado e, em cima (escrita a mão, com uma caligrafia regular, caprichada, artificial, caligrafia de convento, como é possível encontrar servindo de modelo no alto dos cadernos escolares, ou num quadro – negro, depois de uma lição de coisas), esta menção: “Isto não é um cachimbo”.
A outra versão — suponho que a última —, pode – se encontrá-la na Alvorada nos antípodas.
Mesmo cachimbo, mesmo enunciado, mesma caligrafia. Mas em vez de se encontrarem justapostos num espaço. mais

Cinema | Ingmar Bergman

“Filme como sonhos, filme como música. Nenhuma forma de arte passa pela nossa consciência como o cinema, que toca diretamente nos sentimentos, lá no fundo, nas salas escuras da nossa alma. Os demônios são inumeráveis, aparecem nos momentos mais inconvenientes e criam pânico e terror… mas aprendi que, se eu puder dominar essas forças negativas e colocar arreio nelas, elas podem funcionar em meu benefício. Lírios geralmente brotam dos buracos das carcaças.”

—Ingmar Bergman

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Cinema | Bent | Sean Mathias

Na Alemanha nazista, no período que antecedeu a guerra, Max (Clive Owen), um gay, é enviado para o campo de concentração de Dachau. Ele tenta esconder sua homossexualidade usando uma estrela amarela, que era a forma de identificar judeus, em vez do triângulo rosa usado para “marcar” os homossexuais. No campo se apaixona por Horst (Lothaire Blutheau), um prisioneiro homossexual que usa com orgulho seu triângulo rosa. mais

Cinema | O Sacrifício | Andrei Tarkovsky

Andrei Arsenyevich Tarkovski (em russo: Андре́й Арсе́ньевич Тарко́вский) (Zavrazhye, 4 de abril de 1932 — Paris, 29 de dezembro de 1986) foi um cineasta russo, nascido na então União Soviética. mais

 

“No princípio era o Verbo”. Porquê, papá?

Dizer que Offret (O Sacrifício, 1986) faz a súmula da obra de Andrei Tarkovsky, da sua cinematografia e da sua filosofia (se é que uma e outra se não con-fundem), não é mera tirada de ocasião motivada pelo facto de se tratar do seu último filme(-testamento). Não se ignora o facto de cada filme de Tarkovsky constituir, em si mesmo, pela densidade de que se reveste, uma súmula de muitas coisas – fosse Zerkalo (O Espelho, 1975), Stalker (1979) ou Nostalghia (Nostalgia, 1983) o derradeiro filme de Tarkovsky e de qualquer um deles se poderia com a mesma propriedade afirmar estarmos diante de uma “súmula”. Ainda assim, o certo é que Offret concentra em si todas as grandes questões que a obra de Tarkovsky convocou e convoca, funcionando, simultaneamente, como uma resposta, uma saída para muitas das angústias e aporias subjacentes a essas questões. Essa resposta –  uma fuga para a frente, dirão alguns – está, afinal, na esperança e na fé nos homens, no humanismo, mas, e sobretudo, na dimensão (rectius, na busca) espiritual da vida humana – essas não por acaso as palavras (“esperança”, “fé”) com que Tarkovsky fecha o filme e o dedica ao seu filho.